Se um paulistano te convidar para conhecer o "TRIÂNGULO" não estranhe... Ele vai te levar para conhecer o centro histórico da cidade; ou como alguns autores denominam: o Núcleo Original.
Já comentei aqui os séculos que a cidade ficou isolada, sozinha no planalto, sem desenvolvimento... No século XVII a cidade servia de passagem: entrada de aventureiros e saída de conquistadores. SP bandeirante! Habitada principalmente por índios e portugueses.
Nestes tempos, a cidade vivia confinada no Triângulo. Forma geométrica decorrente da ligação das três ordens religiosas presentes: Carmelitas, Franciscanos e Beneditinos. Cada uma delas, com sua igreja e seu convento. Mas e os Jesuítas? Designados fundadores da cidade, sua igreja e seu colégio é incorporado pelo triângulo.
Mapa esquemático do Núcleo Original. Montagem: @rslmagalhaes
Estrategicamente posicionado no topo mais alto entre as várzeas dos rios Tamanduateí e Anhangabaú - os dois preservam seus nomes de origem Tupi, e significam "rio de muitas voltas" e "rio dos malefícios" , respectivamente - o triângulo tinha visão privilegiada para o Leste, principal acesso á Vila. Caminho que fazia a comunicação com o mundo, vinda do Rio de Janeiro e posteriormente de Santos. E também inimigos, contrários à ocupação portuguesa nos moldes jesuítas.
Além do Leste, a saída Norte também era muito usada, principalmente pelas bandeiras, que avançavam para o interior:
Essa trilha cortava longitudinalmente a colina conhecida como Inhapuambuçu, onde os jesuítas se estabeleceram em 1554, e atingindo a parte mais ao norte da elevação se precipitava por uma íngreme encosta, deparando-se com o vale estreito e profundo do Ribeirão Anhangabaú (Rua Florêncio de Abreu). A partir daí, cortando o Guaré, seguia em frente até atingir a margem esquerda do Rio Tietê (Avenida Tiradentes). Do outro lado do rio, o caminho continuava em direção à Serra da Cantareira (Avenida Voluntários da Pátria), prosseguindo mais tarde para Bragança e sul de Minas (Rodovia Fernão Dias). Um trecho desse longo caminho era conhecido, portanto, como do Guaré, usado pelos indígenas planaltinos e pelos primeiros moradores de São Paulo de Piratininga. (CAMPOS, 2005, p.13)
E finalmente a última vértice, para Oeste, onde havia um aldeamento indígena que assegurava a passagem pelo Rio Pinheiros.
A partir da segunda metade do século XIX, a vila começa a se expandir em direção à ferrovia. A ocupação na região da Estação da Luz, garantia o conforto do barões do café, que através da ferrovia comercializava suas sementes e outros produtos provenientes da Europa.
Pouco a pouco, as casas de taipa de pilão se transformam em belos sobrados, e posteriormente, as margens do centro, as chácaras com formosos casarões, desenhados com todos os elementos arquitetônicos que pudessem remeter a riqueza de seu dono, e construídos com os materiais importados trazidos pelas estradas de ferro, configuram essa cidade do café, nos moldes europeus.
Mapa esquemático da 1º Expansão urbana. Montagem: @rslmagalhaes
Os novos habitantes eram de todos os lugares do outro lado do Atlântico (veja post anterior), e a cidade fica pequena! O trânsito caótico, as áreas marginais, os problemas sanitários, obrigam os dirigentes a planejarem uma solução. O lado Oeste, pareceu ser o mais adequado para direcionar o crescimento da cidade. Podemos escrever uma tese sobre os motivos que levaram à esta escolha, mas não é o caso neste momento...
De qualquer forma, após anos de discussões; a inauguração do Viaduto do Chá (1892), do Teatro Municipal (1911), a execução do Plano de Melhoramentos de São Paulo e Bouvard (entre 1906 e 1917 - com algumas secções terminadas na década seguinte), finalmente o Centro Novo é incorporado pela cidade.
Agora com ideais republicanos, a ocupação do solo é mais ordenada - ruas mais largas, loteamento em tabuleiro - e espaços públicos reverenciando os grandes personagens da história - por exemplo: Praça do Patriarca José Bonifácio e R Barão de Itapetininga.
Mapa esquemático da 2º Expansão urbana. Montagem: @rslmagalhaes
Sem esquecer dos novos bairros, mais adequados do ponto de vista sanitário: Paulista e Higienópolis são loteados, e os Barões / Industriais seguem rumo Sudoeste para construir suas ricas residencias e ostentar, mais uma vez, uma vida européia, longe do burburinho do Triângulo, agora limitado á vida comercial.
A partir da gestão Julio Prestes (1938 -1945), a expansão urbana confirma a lógica radial em direção Sudoeste, e a metrópole se configura através de grandes Avenidas, que cobrem os rios e rasgam o tecido urbano em direção a metropolização.
Mapa esquemático da lógica Radial de expansão. Montagem: @rslmagalhaes
Algumas delas:
OESTE
Av São João, Rua da Consolação,
SUL
Av 23 de Maio, Av 9 de Julho, Av do Estado
LESTE
Av Alcantara Machado (Radial Leste), Av Rangel Pestana
NORTE
Av Cruzeiro do Sul, Av Tradentes
O Triangulo, fica esquecido... E se torna apenas o centro dessa nova geometria.
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Referências:
Publicações
1. DIAS, Vera Lucia. O tupi em São Paulo: vocabulário de nomes tupis nos bairros paulistanos. São Paulo: Plêiade, 2008.
2. CAMPOS, Eudes. Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana. Anais do Museu Paulista. São Paulo.N. Sér. v.13. n.1.p. 11-57. jan. - jun. 2005.
3. PONCIANO, Levino. Bairros Paulistanos de A a Z. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001.
4. ROLNIK, Raquel. São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2013. - (Folha Explica).
5. SIMÕES JR, José Geraldo. Anhangabaú: história e urbanismo. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.
Raquel,
ResponderExcluirGosto do seu olhar, do buscar, do reinventar...
Parabéns..
Adriana.
Muito bom texto, com ótimas informações e um olhar cronológico sobre o desenvolvimento da cidade e a transformação deste espaço, além de ótimas referências bibliográficas.
ResponderExcluirParabéns!