Para visitar uma exposição importante, sempre tem uma (grande) fila à espera dos visitantes ansiosos em conferir com seus próprios olhos o que todos estão comentando.
Confesso que tenho uma certa preguiça de enfrenta-la, e acabo “perdendo” tais exposições, porém me propus a enfrentar o que fosse necessário e conferir OsGemeos no Galpão Fortes Villaça.
Fila na Av Rudge. Foto: @rslmagalhaes
Ver "A ópera da lua", foi mais uma daquelas descobertas urbanas, pois o Galpão Fortes Villaça fica fora do circuito. Apesar de conhecer bem a região, nunca tinha me aventurado a pé na várzea da Barra Funda. Algumas casas térreas, remanescentes da época em que os operários moravam próximos ás fábricas, ainda resistem; e pude presenciar uma senhora varrendo seu quintal (que estava limpo), apenas para curiar 1 os estranhos visitantes; mas a ocupação predominante é de pequenos galpões e oficinas.
Algumas fotos e pensamentos depois, consegui entrar na exposição! E como previsto, uma explosão de cores, texturas e pequenos detalhes que não passaram desapercebidos pelos meus olhos curiosos... me lembrei de quando apreciava o trabalho deles pelas ruas da Liberdade e do Cambuci, sem filas, sem seguranças apressando para “olhar rápido”.
Horas de fila, foram compensadas por alguns minutos pertinho dos personagens, cenários, e um incrível boneco gigante com outros animados dentro do seu peito!
Detalhe de um painel dos grafiteiros OsGemeos. Foto: @rslmagalhaes
O lazer, conceitualmente falando, tem quatro características fundamentais:
- Pessoal: liberdade de escolher o que fazer com o tempo livre.
- Gratuito: não é no sentido de não pagar, e sim desinteressado.
- Hedonístico: prazeroso.
- Liberatório: liberação das obrigações, da fadiga.
Comparando essas características com minha experiência, comecei a questionar alguns pontos... A escolha pessoal poderia ter sido influenciada pelos meios de comunicação ou pelas relações interpessoais – afinal precisamos estar “antenados”! Porque eu iria querer ficar quase três horas em uma fila sob sol escaldante?
Para me divertir!
Mas a fila não é divertida...
E aí entra a questão do gratuito. Quem disse que ficar em pé, com calor, sem sombra não é pagar? É um valor bem alto! E desinteressado? Muito questionável... Pois há interesse de conhecer, de saber, de estar integrado ao grupo social, entre outros.
Me atrevo a dizer que o lazer nem sempre é prazeroso... buscamos o deleite, mas o tédio pode ser o sentimento final. Talvez isso aconteça pela alta expectativa criada em torno do lazer, causada principalmente pela rotina fatigante da sociedade pós industrial.
A sociedade pós industrial é urbana – no Brasil 84,36% da população vive em áreas urbanas. As cidades devem permitir que a população usufrua seu direito ao lazer.
Existe uma recomendação de 12m² de área verde por habitante. Não existe uma área de lazer mínima para cada cidadão; afinal o lazer não exige espaço planejado.
Domingo no Minhocão. Foto: @rslmagalhaes
Andar pelas ruas é uma oportunidade de ver e ser visto, de ver paisagens naturais e construções humanas, de observar as pessoas em geral ou de encontrar-se com alguma pessoa em particular. (CAMARGO, p. 63).
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Referências:
Site
1. http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/caracteristicas-da-populacao. Acesso em 30/10/2014.
Publicações
1. CAMARGO, Luiz Octávio Lima. O que é lazer? São Paulo: Brasiliense, 1986.
2. CAVALHEIRO, F., DEL PICCHIA, P. C. D. Áreas verdes: conceitos, objetivos e diretrizes para o planejamento. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 4, 1992, Vitória/ES. Anais...vol.I. Vitória: 1992.p.29-38.
Aulas no SENAC-SP / Aclimação:
- Lazer: Profs Elaine Gomes e Fabio Ortolano
Aulas no UAM / Centro:
- Lazer: Prof Luiz Fernando
- Lazer: Prof Luiz Fernando
Eu particularmente adoro caminhar pelas ruas observando as pessoas, a natureza e as construções da cidade, mas confesso que na região metropolitana de São Paulo esse prazer tem se transformado em pesadelo em alguns casos devido a falta de estrutura, segurança, planejamento, áreas verdes, conservação dos espaços e também pelo excesso de pessoas. Mesmo assim, não abro mão das minhas caminhadas (ou pedaladas) pela cidade, principalmente aos finais de semana que é mais tranquilo, o que possibilita assim uma melhor percepção dos espaços.
ResponderExcluirParabéns pelo texto e pelo tema abordado.
Raquel, seus textos tem a incrível capacidade de nos transportar para o momento!
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